Por: David Guimarães
1.
Dois adeptos do Sporting Clube de
Portugal foram esfaqueados, à saída do estádio D. Afonso Henriques, no final do
jogo entre o Vitória de Guimarães e o Sporting Clube de Portugal. Os dois
cidadãos leoninos andavam tranquilamente, quando simpatizantes vitorianos os
surpreenderam por trás, apunhalando-os. Os dois indivíduos foram internados,
estando um deles em estado grave. Estes actos são dantescos e hediondos, levados
a cabo por autênticos energúmenos. Este repentismo agressivo extravasa o
futebol. Não vou entrar pelo diapasão que o desporto rei devia ser um “jogo de
famílias”, um espectáculo aprazível e inume a qualquer tipo de antagonismos
conflituais. O futebol é uma modalidade que, de facto, em determinados
enquadramentos, se pode aproximar desta visão idílica, onde a tensão está
ausente. É inegável também, que este jogo, enquadra no seu seio discordâncias
imemoriais de vária ordem, políticas, económicas, sociais, religiosas,
separatistas, em suma, devemos considerar este desporto como um fenómeno que
aglutina a pluralidade de representações da vivência humana. Não excluindo o
lado de confrontação desta modalidade, temos de perceber que o limite é a
violência física. As trocas de insultos, as picardias, as tentativas de
humilhação verbal entre adeptos, são por mim compreendidas e aceites como
normais e circunscritas aos trâmites da modalidade. Seria irreal escamotear que
muitas pessoas apaixonadas por futebol sentem ódio ou ódios exacerbados por
jogadores, instituições e dirigentes rivais. Essa repulsa por alguns
antagonistas e a resolução dos contenciosos é delegada para os jogadores e
treinadores, a verdadeira “batalha” é limitada pelas “quatro linhas”. No fundo,
trata-se de monopolizar a violência para dentro do jogo. Essa é, aliás, uma
marcada indelével dos estados civilizados, onde o monopólio da violência é
delegado e gerido pelo estado soberano. Esses são os limites do futebol, que
nunca deveria resvalar para a violência física. Nesses casos, já entramos no
campo do subterfugio, onde a modalidade se transforma numa mentirosa justificação
para pulsões que moralmente não têm lugar na comunidade civilizada.
2.
Sem me pronunciar sobre o juízo do árbitro no
lance que daria o empate ao Rio Ave no estádio da Luz, afirmo que a linha que
marca a paralela para avaliar a veracidade da decisão do árbitro, está
indubitavelmente distorcida. Se visualizarem as imagens televisivas, irão
constatar que aquele traçado não é paralelo. Pelo sombreado na zona da meia-lua
e na linha de grande área, é indiscutível o crescendo de ocupação horizontal. A
ser um erro propositado, tudo indicia nesse sentido, é importante condenar e
catalogar a televisão oficial do clube da Luz como adulteradora da veracidade
dos acontecimentos. A manipulação é absolutamente ultrajante, este canal
serviu-se da suposta “infalibilidade teológica” daquele “traçado divino” para
tentar incutir uma perspectiva mentirosa. Neste enquadramento, a Benfica TV
presta um péssimo serviço quando transmite jogos. Se alguma culpabilidade assiste aos
responsáveis da estação, a não utilização da linha nos próximos jogos seria o
único passo ruma a uma ténue redenção. Como é que o “maior clube do mundo” teme
a possível constatação de um fora de jogo mal tirado a favor do Rio Ave, que
tipo de patologia narcísica terão estas personagens sedentas do exorcismo do
pecado? Este mesmo canal empreende, há vários anos, uma cruzada impoluta pela
“verdade desportiva”. Devo dizer que odeio este termo, a verdade não precisa de
“acompanhante”. Que sustentação moral terá este canal para uma continua
retórica messiânica? Nenhuma! Este contexto absurdo e indecoroso está a fazer
ressurgir de novo um fenómeno repulsivo neste país, o da negação da realidade.
Eu estou a ver uma linha não paralela que me que dizem ser paralela, reiteram
incessantemente que é paralela e que se eu não vejo a perfeição do traçado
paralelo, é porque não vejo bem. Quem quiser ter este tipo de coacção perante
os outros adulterando a realidade, devia ir para a Coreia do Norte ou para a
ditadura monolítica iraniana. Neste caso, para um refúgio de “monolíticas
paralelas”.