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sábado, 4 de outubro de 2014

Opinião: Um olhar sobre o Sporting

A abordagem táctica nos jogos contra FC Porto e Chelsea

Texto: André Ferreira - Treinador de futebol

Análise total sobre a equipa em todos os seus momentos e compreender todos os comportamentos, que não são possíveis de quando se vê um jogo pela televisão.



Vou analisar dois momentos de jogo: a Organização DefensivaOfensiva, deixando as Transições para outro momento.

No momento de Organização Defensiva, o Sporting, surpreendeu-me. Contra o FC Porto adoptou um bloco alto e muito compacto. Desta forma, Marco Silva mostrou que analisou bem as mais-valias do FC Porto e que conhecia bem a forma de jogar da equipa portista. Limitou o início da construção do ataque aos jogadores do FC Porto, tirando-lhes, assim, espaço para “rodar” a bola entre os médios e os laterais.

Com esta tática, impediu as variações de flanco, que por sua vez, deixaram os extremos em posições de 1 vs 1, tal como é típico no modelo de jogo do FC Porto. Marco Silva reconheceu, ainda, que os jogadores adversários eram muito mais fortes no 1 vs 1 e que se permitisse que esses duelos acontecessem a sua equipa dificilmente os sustentaria, desta forma tentou juntar as linhas e, com uma atitude muito aguerrida por parte dos seus jogadores, evitar que esses duelos ocorressem. 

Para isto, havia a necessidade de subir o bloco, para poder pressionar desde a 1ª fase de construção do adversário, para que a circulação de bola não se iniciasse. Mas para subir um bloco, ainda por cima contra uma equipa com os recursos técnicos do FC Porto, é necessário que os defesas tenham uma boa qualidade técnica e que sejam rápidos, ora nenhum dos centrais do Sporting (Sarr e Maurício) tem estas características. É neste momento, que surge William Carvalho, uma peça muito importante para que toda esta organização não se abatesse. 

William ocupava uma posição poucos metros à frente da dupla de centrais, percorrendo o corredor central em toda a sua largura, empurrando os 2 médios centro (J.Mário e Adrien) para posições mais adiantadas de pressão pois conseguia resolver quase todos os lances no seu raio de acção (bolas divididas, marcação ao jogador adversário que entrava na sua zona e pressão sobre o jogador que recebia a bola na zona central) e dava a segurança para os centrais se manterem “altos”. 

Estes níveis de pressão elevados (que duraram até cerca dos 60 minutos), aliados ao facto de a dupla de centrais do FC Porto ser composta por 2 “esquerdinos” (e tiveram bastantes dificuldades em variar a saída da bola, acontecendo esta quase sempre pelo lado esquerdo, o que facilitou a vida a Slimani que pressionava logo Marcano para que ele soltasse e deixava Martins Indi mais à vontade, pois sabia que ele não se sentia confortável daquele lado do campo) conseguiu diminuir a velocidade de circulação de bola, um dos pontos forte do adversário. João Mário e Adrien “enchiam” o campo e pressionavam muito e bem, não deixando “pensar” Herrera, Casemiro e Ruben Neves (este último sentiu mesmo muitas dificuldades).

Já contra o Chelsea, Marco Silva, demonstrou mais uma vez uma grande capacidade de perceber a equipa adversária, pois enquanto o FC Porto “roda” a bola entre os médios com o objectivo de colocá-la nos extremos para que estes resolvam nas situações de 1 vs 1 e com um grande preenchimento das laterais e muitas variações repentinas de flanco, o Chelsea tem um meio campo com um nº10 e dois médios com muita capacidade de percorrer o campo com bola, “queimando” linhas, como são Matic e Fabregas e procura dar profundidade através do seu rápido e habilidoso avançado (Diego Costa). Desta forma, o Sporting baixou ligeiramente o seu bloco, para um bloco médio-alto, mas manteve-se compacto, apesar das linhas estarem mais separadas que no jogo contra o FC Porto. 

Assim, preveniam-se da boa capacidade dos médios em “galgar” terreno e chegar a situações de desequilíbrio após ultrapassar um adversário, pois como as linhas não estavam tão próximas havia tempo para os outros jogadores reagirem e compensarem a posição, situação que era difícil de acontecer caso se mantivesse o mesmo dispositivo defensivo. A capacidade física de João Mário foi fundamental nestas situações, pois foi ele, que na maioria das vezes, fez esta dobra, recuperando muitas bolas para a sua equipa ou atrasando a progressão no terreno por parte do adversário. Cedric foi outro elemento que, pela sua capacidade de jogar sempre a alta intensidade, anulou os movimentos de um dos principais desequilibradores do Chelsea: Hazard. Outra alteração, em relação ao jogo anterior, foi a colocação dos médios centro numa posição mais central, afunilando no corredor central, onde o Sporting iria sentir mais dificuldades.

Na Organização Ofensiva, o Sporting foi muito similar nos dois jogos, sendo que no jogo contra o Chelsea foi muito menos eficiente derivado da maior valia do adversário. Quando se encontra no momento de ataque, o Sporting, já está preparado para a perda da bola através do posicionamento de William. 

Mais uma vez ciente da qualidade, ou falta dela, dos centrais com bola, o treinador “prende” William a uma posição mais recuada, ficando apenas responsável por variar o flanco da bola quando a recebe, não lhe sendo permitido a progressão em condução ou através de um passe vertical de risco para que não perca o equilíbrio da equipa. 

O resto da equipa move-se em função do jogador mais desequilibrador: Nani. Se dividíssemos o campo em 5 corredores verticais, Nani partiria sempre do corredor 2 ou 4 e é aqui que a sua influência no modelo de jogo se demonstra, pois o posicionamento dos restantes jogadores tem por base o de Nani. 

O lateral do lado de Nani funciona como um extremo (Jonathan Silva fica mesmo na linha do fora de jogo, junto à linha), permitindo que Nani tenha uma linha de passe no corredor, quando faz os seus movimentos interiores. 


No lado contrário o Sporting preenche o corredor com 3 jogadores, Carrillo mais à frente, João Mário no meio e Cedric mais recuado. Adrien equilibra a equipa, sendo um ponto de apoio entre as duas laterais., além de procurar rematar de longa distância. Slimani move-se na entrada da área à espera do momento de entrada para atacar a bola. Ficando algo deste género:



Desta forma, enquanto de um lado existe o preenchimento com o objectivo de procurar o cruzamento, lado contrário de Nani, e através da grande ocupação no corredor e das trocas posicionais, do lado contrário pede-se que Nani assuma a “batuta” e decida se flanqueia (através do passe para o lateral), se remata, se coloca para as zonas de finalização do Sporting (ou na área para Slimani ou para a entrada da área para remates de Adrien, preferencialmente, ou João Mário) ou se guarda a bola.
Através deste posicionamento, a equipa mostra toda a sua objectividade, não sendo uma equipa que procure a posse, antes procura uma grande intensidade através de Adrien e João Mário, esperando pelos momentos de decisão de Nani (que acontecem abundantemente) para procurar o golo. 

A entrada de João Mário para o lugar de André Martins acaba por vir no seguimento do crescimento da equipa, pois com o desenvolvimento deste modelo seria sempre necessário um médio com a capacidade física (resistência e intensidade) como é João Mário.

Texto: André Ferreira - Treinador de futebol