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domingo, 26 de outubro de 2014

Nótulas Futebolísticas



Por: David Guimarães

1.      Na sequência da vitória do Futebol Clube do Porto frente ao Athletic Bilbao por 2-1, o público afecto ao clube da casa insurgiu-se inúmeras vezes com determinados acontecimentos em campo, assobiando a equipa e primordialmente o seu treinador. Jackson Martinez, capitão dos portuenses não apreciou a postura dos adeptos e afirmou: “precisamos do apoio das bancadas, não de assobios”. Os espectadores têm liberdade para fazer o que quiserem inegavelmente, podendo, se bem entenderem, assobiar. No entanto Jackson também tem todo o direito em condenar esta atitude do público. Na minha perspectiva tem razão. Assobiar a equipa é contraproducente, apenas serve para enervar e desestabilizar os jogadores, o que gera decisões no jogo muito precipitadas e imponderadas. Quem assobia não demonstra qualquer cultura, porque não compreende que o insucesso, o fracasso, ou uma má prestação, devem ser aceites com normalidade no futebol. Não podemos olhar para o futebol inglês e para os seus adeptos com idolatria e depois agirmos de forma contrária, caindo assim na incongruência pura.

2.      A forma como o Benfica se está a comportar na Liga dos Campeões não se coaduna com os pergaminhos do clube. Uma instituição com tal grandeza, até pode, em três jogos europeus, perder dois e empatar um, pode também estar em último lugar do grupo devido a partidas muito fracas. O que me parece inaceitável não é a qualidade apresentada, mas a não reacção a essa péssima qualidade. O Benfica vê como normais estas prestações, não reage discursivamente, não empreende uma renovada motivação e os jogadores não adoptam a concentração competitiva necessária para esta grande competição. Uma coisa é aceitar a derrota, outra coisa é não a tentar debelar. As águias parecem obcecadas com a revalidação do título (desinvestindo internacionalmente), mas julgo que esta prestação muito fraca na Champions irá abalar a confiança dos jogadores, numa depressão que se irá reflectir no campeonato. Com este estado de espírito, vaticino o último lugar do grupo nas competições europeias e a perda do primeiro lugar por parte dos benfiquistas no campeonato.

3.      O Presidente do Sporting, Bruno de Carvalho afirmou recentemente: “Nós representamos Portugal, outros representam bairros ou províncias”. Estas afirmações irracionais aglutinando realidades, infantilizam o futebol. O que o presidente leonino quer dizer é: “O meu clube é muito bom e os vossos (Porto e Benfica) são uma porcaria”. Para desconstruir esta “regurgitação pueril”, importa olhar para duas realidades distintas. No mundo do futebol, quem melhor tem representado o país, na última década pelo menos, têm sido o Porto e o Benfica, os azuis e brancos com títulos europeus e o Benfica com duas finais recentes. O Sporting apenas conseguiu uma final neste decénio, feito que também o Braga alcançou (mais recentemente até do que os leões). Quanto a prestações futebolísticas, Bruno de Carvalho está errado. Olhando agora para o prisma discursivo dois clubes alvos da farpa presidencial, irei tentar descodificar onde radica esta postura arrogante. Quando desconstruímos a forma de comunicar do Benfica, é impossível negar a tentativa de colagem com a representação nacional. A retórica dos “6 milhões”, “clube nacional”, “maior clube do mundo”, a transformação das suas principais figurais em embaixadores nacionais, onde a discussão da trasladação de Eusébio para o panteão nacional é o caso mais recente, atestam esta ligação umbilical entre clube/nação. Portanto a catalogação de “clube de bairro” para o Benfica é aberrante, tanto desportiva como retoricamente. A “boca” de que o Porto representa uma província não afecta os portistas. O sentimento de afectividade entre clube/cidade/região norte é e será sempre uma realidade que marcará indelevelmente os dragões. Embora, é preciso também dizê-lo, o sucesso do Futebol Clube do Porto nesta época globalizada, originou um discurso regionalista menos acentuado. Não que essa visão repudiadora da macrocefalia da capital se tenha esbatido, mas ao nível retórico descalcificou-se, porque não é tão familiar ao cada vez maior número de adeptos do Porto que vivem fora do país e da cidade. O Sporting, com este presidente tem melhorado muito desportivamente, mas atraiçoou a sua identidade. Bruno de Carvalho comparou Porto e Benfica a duas “nádegas” que libertam “ventos malcheirosos”. O Sporting é um clube de nascimento polido e elitista que foi conquistando, com os seus sucessos desportivos, apoiantes nas camadas mais baixas. Este presidente está deslocado da identidade do seu clube. Quer renegar as suas origens socialmente altas e adopta, por isso, uma linguagem rica em escatologia. Desaproveita o seu património de educação e elegante convivência desportiva, tentando assim atrair o “povo sportinguista”, com conceitos básicos e postura rude. O Sporting era o tal “clube diferente”, em que os seus adeptos se distinguiam pela nobreza de acção e elevado modo de estar no desporto. Agora o clube melhorou bastante desportivamente, mas a sua identidade está a ser esquecida. O Sporting soube unir bem estes dois universos, aristocrata/popular. Bruno de Carvalho desrespeita ambos.